segunda-feira, 21 de abril de 2014

Lá vai ele fechando e abrindo sua cauda.




       
Vivemos fechando e abrindo nossa cauda. Calma! Que entenderá o que estou querendo dizer. A história do pavão que vivia abrindo e fechando sua cauda, encontra lugar no nosso dia a dia. Não sei você, mas na adolescência, minha cauda vivia mais fechada que aberta, e isso, por causa da baixa autoestima que não deixava de me assediar. Na juventude, fui vencendo alguns medos e aí, minha cauda foi se abrindo devagarinho. A maturidade não chegou com a idade, mas na disposição de mudança. A idade só nos acrescenta dias e anos, é a vontade de crescer e se ajustar que nos tornam pessoas sábias. Na maturidade administramos melhor as aberturas e fechamentos da cauda. Às vezes ela está fechada ou aberta, e ninguém percebe. Isso é a boa maturidade.

A tua cauda foi posta em você para ser exposta. Então, vá e deixe-a aparecer da maneira como Deus fez.

Um dia de caudas abertas para você.


(O Pavão Que Abre e Fecha - Maria Clara Machado) Um pavão se pavoneava na beira do lago, se olhava na água e se perguntava: - Sou feio? Sou bonito?
Quando via a cauda aberta em leque, toda verde, roxa e azul-brilhante, se achava lindo e elegante.
Mas quando olhava os pés e seu andar desajeitado, ficava até desanimado. E se escondia envergonhado.
Um dia, ele recebeu um convite para uma festa do céu, que devia ser mais bonita que a tal do sapo. Abriu e perguntou:
- Será que isso é bom? Será que isso é ruim?
Sempre que precisava ter opinião, ficava assim.
- Claro que é bom – disse o pombo-correio. – Festa é sempre bom.
E ele achou que era bom.
Abriu a cauda e ficou se pavoneando. Depois, ensaiou uns passos de dança. E ouviu as gargalhadas de um tangará dançarino que, bem ao seu lado, que treinava para a festança:
- Que bicho mais desajeitado! Este baile vai ser engraçado...
Ficou todo sem graça e se fechou.  Aí chegou um pardal e assim falou:
- Que tristeza é essa?
- É que eu danço esquisito...
- E quem vai reparar nisso num bicho tão bonito?
E o pavão, elogiado, abriu a cauda com pena pra todo lado.
Mas, de mau jeito, acabou perdendo uma, lá no canto direito.
Foi uma tristeza danada. E lá ficou de novo, todo encolhido, de cara amarrada.  - Por que todo esse aborrecimento? – perguntou o periquito, que passava nesse momento.                                                                                                                 - Perdi uma pena e isso é ruim.
- Ruim uma ova. É sinal de que vai ganhar outra bem nova.
Com isso, o pavão se animou e abriu seu leque.
Aí chegou o bem-te-vi e riu muito moleque:
- Olha o pavão de rabo banguela!
Já se sabe: o pavão encolheu a cauda, tratou se sumir com ela.
E ficou assim a tarde toda, abrindo e fechando, abrindo e fechando, mudando de ideia com cada bicho que ia encontrando.
No fim do dia estava vesgo, suado, cansado, espandongado, de língua de fora, exausto de abrir e fechar toda hora.
Resolveu: não ia mais. Mas também não ficava ali para todo mundo rir dele. Viu uma moita e se escondeu atrás.                                                                             Aí ouviu uma conversa do outro lado:
- Nem aguento mais esperar o baile. Que festança vai ser essa...
- É mesmo! Comida boa, água fresquinha, muitos amigos e música à beça...  O pavão foi até lá, ver quem tinha tanta animação.
Não era pássaro colorido, nem dançarino, nem de boa canção.
Era um casal de urubus. Foi a vez do pavão rir deles, abrindo suas penas verdes e azuis.
- Vocês não se envergonham? Feios assim e cheirando ruim?
Quando vocês dançarem, todo mundo vai rir.
- Vai nada... – respondeu o urubu. – Todo mundo está mais ocupado, tratando de comer e beber, de cantar, de se ver e conversar. E se alguém quiser, pode rir. Não por isso que vou deixar de me divertir.
E a urubua completou:
- E tem mais: não tem essa de feio e fedorento, não, ouviu?
Urubu é tão bonito, da cor do Jamelão e do jaguar, da jabuticaba e da noite sem luar...
Enquanto o pavão abria o bico e se espantava, ela continuava:
- Você é que é feioso, com esse rabo escandaloso, abrindo e fechando que nem gaveta. E nem ao menos é de cor preta. Todo esse verde, roxo e azul, cheio de bolinha...
Mas a última coisa que disse foi com um sorriso matreiro e olhar dengoso:
-
O que vale é que você tem uns pés que são mesmo uma gracinha... E depois, isso de bonito ou feio é só questão de recheio.
Aí o pavão teve que rir.
E depois que os dois saíram voando, ele ficou pensando:
- Feiura de lixo ou beleza de artista não depende do bicho, mas do ponto de vista. Cada um é diferente e o que importa é mesmo a gente. E lá foi ele animadíssimo para uma festa bem divertida.
Ainda bem. Se não, ficava naquele abre-e-fecha. - (Maria Clara Machado)

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